terça-feira, 1 de junho de 2010

a reforma gráfica e editorial da folha

Na reforma gráfica e editorial da Folha, espirraram os colunistas mais “longevos”, no dizer do secretário do jornal. Mas sobrou José Sarney, o mais “longevo” de todos, para revolta dos leitores, que encheram o painel da Folha de protestos indignados.

Especulo a manutenção de Sarney com pelo menos três motivos: 1) virou atração turística do jornal como o pior escritor do mundo; 2) como a Folha tem obsessão pelo tal “pluralismo”, mantém Sarney como representante do estrato social mais atrasado do país – embora a famiglia entenda muito mais de extrato com números estratosféricos nas Ilhas Cayman do que de estrato social; 3) bem ou mal, o homem é presidente do Senado. Seria um tiro no pé demiti-lo agora, ano de eleição.

Imune a uma reforma que lança as bases da “Folha do futuro”, o pretérito passado José Sarney comemora hoje, em sua coluna salva dos escombros, esse verdadeiro milagre de sobrevivência. E qual é o assunto da coluna? A reforma da Folha… Sarney está vibrando, nem tanto pelas novidades, como por ter tido a vida poupada, mais uma vez: “Volto do exterior. Encontro a Folha de S.Paulo de roupa e alma novas. Obriga a habituar os olhos e a ver o futuro no e do jornal. É uma desafiadora ousadia.

Frases fora do contexto podem ficar piores do que realmente são. Mas “o futuro no e do jornal”, Sarney típico, é ruim sozinha ou em grupo. Só ele escreve assim – mal e pretensamente “muderno”. A seguir, faz um balanço de sua bem-sucedida parceria com a Folha: "Comecei a escrever aqui em 1983, logo após entrar para a Academia Brasileira de Letras. Parei para ser vice e presidente.” O jornal perdeu então seu pior colaborador – o país ganhou seu pior presidente.

Em 1991, na Cidade do México, recebo um telefonema. Era Octavio Frias de Oliveira. Convidava-me para assumir esta coluna às sextas-feiras. Não faltei uma só vez, com paixão.” Essa assiduidade, motivo de orgulho para Sarney, levou centenas de leitores da Folha a cancelarem suas assinaturas ou deixarem de comprar o jornal – incomodados pelo impulso de desviar os olhos da coluna da direita da página 2, às sextas-feiras.

O texto deve ser leve, os adjetivos, ques e porques são inimigos e só devem entrar em caso de absoluta necessidade. É preciso segurar o leitor com o tema, nunca afastado do dia a dia, e brincar com as palavras, para enganar o que é sério com capa de burlesco ou cômico, ferino ou inútil. E haja tantos gêneros de crônicas!

Sarney, leve? Adjetivos, quês e porquês (ele ainda não entendeu bem o “chapeuzinho”) são inimigos do texto de Sarney, como qualquer palavra é inimiga de um texto de Sarney. Segurar o leitor não é bem sua especialidade. E, brincar com as palavras, francamente: Sarney brinca é com as palavras erradas, o tempo todo.

Sarney aplaude a Folha: “No testemunho destes anos, algo nunca mudou com as mudanças: os valores do pluralismo, o dever com o leitor e a notícia, o respeito ao direito de dizer e a resistência a patrulhas organizadas, hoje fáceis no mundo da internet, querendo cabeças.” “Querendo cabeças” só faz sentido se for a cabeça de Sarney: nenhum leitor o quer no jornal. (...)

--> texto de um tal celso arnaldo, verdadeiro e divertido  =]

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